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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Povo de Deus, assembleia santa



Dom Alberto Taveira Corrêadomalberto@fundacaonazare.com.br
A Igreja celebra no início deste mês duas realidades que se complementam: os fiéis falecidos e a solenidade de todos os santos. Dois polos de uma tensão positiva, que nos ilumina a descoberta do sentido da vida.
Temos a certeza de dois momentos decisivos na existência, agora e a hora de nossa morte, como rezamos na segunda parte da Ave-Maria. Todo o passado é lançado no mar da misericórdia de Deus, se houve falhas e pecados. O bem que foi feito é motivo de agradecimento sincero àquele que é a fonte de tudo o que é bom. O futuro vale a pena aguardar quando se tornar presente. "Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu cuidado" (Mt 6, 34).
A hora de nossa morte, mais cedo ou mais tarde chegará. Aquela que São Francisco chamou "irmã morte" arranjará alguma desculpa para que nos apresentemos diante de Deus. É bom viver cada dia como se fosse o primeiro, o único e o último, sem desperdiçar qualquer oportunidade para amar a Deus e o próximo, já que o amor será a única bagagem permitida na última viagem. Ao cristão não convém preocupar-se, mas ocupar-se! Nem alimente tensões nem fique inativo, "esperando a morte chegar". Trata-se antes de viver bem!
Aquele que ressuscitou, aproximando-se da morte, soube encará-la com clareza. "Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de recebê-la de novo" (Jo 10, 18). Também nós podemos tomar posse de nossa existência, transformando-a em entrega e doação. Ao passar pelos umbrais da morte, estaremos vivendo nossa páscoa pessoal, para ver a Deus e receber dele tudo o que esperamos com fé durante a grande aventura aqui na terra. A semente para esta passagem foi plantada em nós na graça do Batismo.
E depois? Sim, existe o depois, o lado de lá, a vida eterna! A festa de todos os santos aponta para o ponto de chegada da viagem feita. "Feliz quem encontra em ti sua força e decide no seu coração a santa viagem" (Sl 83, 6). Para decidir-se é bom saber que somos filhos de Deus, ainda que não se tenha manifestado plenamente o que somos. E ele nos fez para a perfeição, não para a mediocridade.
A santidade não é destinada apenas àqueles irmãos e irmãs que viveram com heroísmo a vida cristã, mas proposta universal. Decidir-se pela santa viagem é aceitar o caminho do Evangelho, no qual se encontra a estrada das bem-aventuranças (Mt 5, 1-12), decidindo-se com liberdade pelo seguimento de Cristo, acolhendo-o como Senhor e Salvador. Depois, trata-se de seguir um roteiro de viagem, com algumas propostas para desfrutar as belezas e os desafios do percurso.
Buscar a santidade é olhar para o alto e para frente, não ceder a compromissos com o pecado. Quem fica parado já está regredindo! Quando o que todo mundo faz é critério para sua vida, falta-lhe a originalidade da proposta cristã, que não permite acomodamento.
Depois, olhe ao seu redor, identificando pessoas decididas, numa verdadeira corrida rumo à santidade. Há muitas flores brotando no meio dos pântanos! Há gente que gosta da verdade, que se empenha em ter as mãos limpas e o coração puro (Sl 24). Descubra a graça da companhia e da vida em comunidade. Um irmão junto do outro é uma fortaleza! Deus quis salvar-nos constituindo-nos como povo santo. Parece-me que o Senhor quer edificar a santidade não tanto individualmente, mas uma santidade de povo, com pessoas que se sustentem mutuamente no amor mútuo. O mundo, vendo como os cristãos se amam, será tocado pela graça, vendo a imensa multidão cujas vestes foram lavadas no Sangue do Cordeiro. A festa de todos os santos então será completa! 

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